O Mazda 787B, é a vários níveis um carro único na história da indústria e desporto automóvel. O carro ficou mundialmente famoso por representar a única vitória de um construtor japonês nas míticas 24 horas de Le Mans até à data. Foi também a única vitória de um carro com motor a funcionar segundo o ciclo de Wankel, mais conhecido por motor rotativo. Mas o mais incrível é que a vitória nas 24 horas de Le Mans foi a única do historial do modelo nas 21 corridas em que participou! De resto ficou-se por alguns lugares no Top-10 e um solitário 3º lugar nos 1000km de Fuji do Campeonato Japonês de Sport Protótipos.
Nas qualificações os três Mazda estiveram discretos, qualificando-se o #55 em 19º, o #18 em 23º e o #56 em 30º. Perante isto, Takayoshi Ohashi, o super conservador director da equipa tomou uma decisão surpreendente, tendo em conta as suas habituais estratégias. Confiando na fiabilidade e baixo consumo do 787B, aliado ao menor desgaste nos pneus devido ao menor peso, ordenou aos pilotos do carro #55 que pilotassem como uma corrida sprint se tratasse, enquanto o #18 faria uma corrida conservadora mais condizente com a filosofia de Ohashi-san. Em pouco tempo o carro #55 estava em quarto a tentar acompanhar o ritmo dos três Sauber Mercedes que lideravam a corrida. Até que, durante a noite, o primeiro Sauber teve que parar para substituir o fundo danificado por passar sobre detritos a alta velocidade e depois o Sauber que era pilotado entre outros por um tal de Michael Schumacher fez um pião e teve que recolher às boxes devido a um problema com a caixa de velocidades, o que fez o Mazda saltar para segundo. Era óbvio que o Sauber líder estava com problemas em achar o compromisso em termos de velocidade e utilização de combustível para manter o 787B à distância, até porque, tal como a Jaguar, a Sauber chegou à conclusão que os velhos grupo C eram bem mais rápidos em Le Mans, apesar das restrições ao consumo que os novos 3500cc não tinham e mais 100kg de peso, pelo que a Peugeot foi a única a fazer a prova na nova fórmula a nível oficial, isto pela única razão de não ter um “velho” Grupo C. Até que, às 22 horas de prova dá-se o golpe de teatro bem ao jeito de Le Mans, com o Sauber-Mercedes líder libertava fumo pela traseira. Um apoio do alternador partido levou à quebra da correia da bomba de água e consequente sobreaquecimento do motor e desistência quando já tinha quatro voltas de avanço para o Mazda.
Assim, de modo surpreendente o Mazda #55 com o seu motor de quatro rotores com 2616cc ganhou a prova, seguido dos três Silk Cut Jaguar com o seu convencional V12 de 7400cc e o Mercedes sobrevivente com esse tal de Michael Schumacher ao volante no quinto lugar qeuipado com um V8 Turbo de 5000cc. Logo atrás ficou o Mazda #18, com o seu andamento conservador até porque tinha montada uma relação de transmissão que privilegiava o consumo mas fazia perder 20 km/h para o #55 nas determinantes rectas de Le Mans. O velho 787 ficou em oitavo atrás do melhor Porsche, mas já a 16 voltas do primeiro. Johnny Herbert foi o piloto que levou o #55 até à bandeirada de xadrez, não deiva ter feito o último turno, mas pediu para se manter no volante na última paragem. Exausto e provavelmente desidratado por não ter sido substituída a garrafa de água nessa última paragem, não conseguiu ir ao pódio receber o troféu.
Pódio com Gachot e Wiedler, sem Herbert indisposto
Depois de Le Mans foi construído um terceiro 787B para substituir o chassis 002, que venceu a prova e foi por isso retirado da competição. Até final do ano apenas se destaca o terceiro lugar nos 1000km de Fuji do campeonato japonês. Nenhum piloto ficou sequer no top-ten quer do campeonato do mundo, quer do campeonato japonês. Definitivamente, não fosse a fabulosa vitória em Le Mans, este carro não sairia do anonimato.
Uma versão GTP do campeonato japonês, daí a ausência de faróis
Parabéns Pedro.
ResponderEliminarMais um exelente artigo, sobre um modelo que apesar ter ter conseguido apenas um registo de relevo, foi-o de facto de grande importância para a história do automóvel de competição e para o mundo nipónico.
Um abraço
Boas.
ResponderEliminarParabéns Pedro. Mais um belo artigo, bem documentado tanto do ponto de vista histórico como técnico.
Boas gatilhadas
MPQ
Olá Pedro,
ResponderEliminarÉ a primeira vêz que visito o teu blogue. Não me tinha apercebido que tinhas um blogue há tanto tempo. Apenas com aquela história do Mota é que me apercebi.
Dei uma vista de olhos em todos os artigos por ti publicados e fiquei maravilhado com a quantidade de informação do mundo automóvel que conseguiste recolher. Muitos parabéns. Excelente para pessoas como eu que não ligam muito a história dos carros e a tudo o que envolve o desporto motorizado.
Abraço
Augusto
Descobri hoje este blog quando procurava informação para um post sobre o Mazda 787B que construí faz uns anos e gostei muito da informação aqui encontrada.
ResponderEliminarVou colocar um banner do teu blog no meu.
Abraço
Domingos