DTM - Parte 1 1984-1987

Deutsche Tourenwagen Meisterschaft / Deutsche Tourenwagen Masters

Na Alemanha as corridas com carros que se assemelham com os nossos carros do dia a dia sempre tiveram enorme popularidade. Esta história de sucesso iniciou-se em 1972, com o DRM, na época para carros de Grupo 2 (como o BMW 2002 ou o Ford Escort RS1600 por exemplo) e Grupo 4 (Ford Capri RS ou Porsche 934). O seu interesse junto dos espectadores associado ao pouco interesse pela Fórmula 1 na Alemanha rapidamente fizeram com que fosse o campeonato mais popular no país. Entretanto o campeonato evoluíu para os muito alterados Grupo 5, como os potentes Porsche 935 e os espectaculares Ford Capri e BMW 320. As transmissões televisivas em directo eram Top de audiências na Alemanha e os construtores contratavam pilotos de craveira internacional. No entanto, com o sucesso internacional do Campeonato do Mundo de Marcas com os protótipos de Grupo C, o DRM acabou por adoptar estes modelos. Com a escalada de custos, acabou também por ser o fim do campeonato. Em 1984 apenas se correram três provas, usando-se três provas do Campenato do Mundo para se obterem seis provas pontuáveis, sendo aliás o campeão exactamente o mesmo nas duas competições, Stefan Bellof. Em 1985 apenas se realizou uma prova, correndo o resto do calendário junto com as Interseries.

Assim, a partir de 1986, criou-se uma competição para os Grupo C, a Supercup, no entanto num formato sprint para apenas um piloto por carro. Este campeonato durou até 1989.
Isto porque os organizadores perceberam que necessitavam de revitalizar as competições com carros derivados dos carros de estrada de grande produção, que tinham sido relegados para competições secundárias com o aparecimento dos protótipos e criou o campeonato DTM (Deutsche Tourenwagen Meisterschaft) em 1984, destinado a carros de Grupo A, ou seja, carros de turismo moderadamente modificados.



Era um campeonato destinado a privados, até porque não era atribuído título de construtores. Assim em 1984 iniciou-se a primeira temporada da competição com modelos tão diversos como o Volvo 240 Turbo, Rover Vitesse, BMW 636 CSi, BMW 325i, Chevrolet Camaro, Ford Mustang, Alfa Romeo Alfetta GTV6 ou Opel Kadett GT/E. Correram-se 12 jornadas, 10 na Alemanha e 2 visitas a Zolder na Bélgica. Havia jornadas com uma corrida de 100km ou duas mangas de 50km, neste caso obtendo-se apenas metade da pontuação por manga. No final, o primeiro campeão foi Volker Strycek, com um BMW 635CSi à frente de Olaf Manthey num Rover Vitesse.


Em 1985 a vitória foi  para o sueco Por Stureson com um Volvo 240 Turbo com o Rover Vitesse de Olaf Manthey a ficar novamente com o vice-campeonato. Em 1985 abandonaram-se as jornadas com duas mangas passando-se a realizar apenas jornadas com uma corrida de 100km e repetindo-se as únicas visitas ao exterior sob a forma de duas jornadas em Zolder.
 

1986 foi o ano da Rover, através do Vitesse, pilotado pelo dinamarquês Kurt Thiim, finalmente conseguir o título depois de dois vice-campeonatos consecutivos. Em segundo no campeonato ficou o alemão Volker Weidler, que viria a vencer, cinco anos depois, as 24h de Le Mans com a Mazda. Marcante também foi o carro utilizado por Weidler, pois foi a estreia do Mercedes 190E 2.3 16 no DTM, um carro que iria marcar de forma indelevel o campeonato nos anos seguintes.



Em 1987 estreou-se no campeonato outro peso pesado da história do campeonato, o BMW M3, que veio substituir o 635CSi. E estrou-se com a vitoria no campeonato, pelas mãos do belga Eric Van der Poele que se superiorizou ao alemão Manuel Reuter, com este a repartir a temporada entre dois Ford Sierra, o XR4i e o RS500. 



No entanto, e apesar das enormes listas de inscritos, o campeonato ainda não estava a ter o impacto mediático que se pensava possível, talvez até porque tenha havido três estrangeiros campeões em quatro anos, e assim para a temporada de 1988 decidiu-se que todas as jornadas se correriam em duas corridas de 50km e não uma de 100km, de modo a tornar o espectáculo mais interessante para as transmissões televisivas, um formato posteriormente adoptado pela generalidade dos campeonatos de turismo e fórmulas de promoção.


Mas isso fica para a segunda parte...

Boião de Cultura I - 24h de Le Mans

Sabia que, apesar de nunca nenhum piloto português ter vencido, há um português que estava inscrito no carro vencedor?

É verdade!!!

Quando?
1998

Quem?
Pedro Lamy

É verdade, o "nosso" Pedro Lamy era um dos pilotos de reserva do Porsche 911 GT1-98 com o número 26 que venceu a prova, pilotado por Allan McNish, Stéphane Ortelli e Laurent Aiello.



Pedro Lamy, na realidade, correu a prova com o Chrysler Viper GTS-R número 51, classificando-se em 13º da geral e 2º da classe GT2.



Ainda mais curioso é que o nosso compatriota estava ainda inscrito no Chrysler Viper GTS-R número 53 que venceu a classe GT2!



E como se ainda não bastasse, constava do alinhamento de pilotos do Porsche 911 GT1 com o número 48 da Larbre Competition que não se pré-qualificou para a prova.



Estava ao todo inscrito em quatro carros para a prova, isto porque na época tal era permitido, fazendo com que as equipas inscrevessem diversos pilotos por carro, sendo que não havia planos de os fazer correr, salvo caso de algum impedimento de última hora.

Pierre Levegh (Paris 1905 - Le Mans 1955)

Pierre Eugène Alfred Bouillin, conhecido nas corridas por Pierre Levegh foi um atleta de grande nível no hóquei no gelo e no ténis, mas que ficou indelevelmente ligado ao automobilismo e às 24 horas de Le Mans em particular.


Começou a competir relativamente tarde, aos 32 anos, em 1937, tendo participado na maratona francesa pela primeira vez nos dois anos seguintes, que coincidiram com as últimas duas edições da prova antes da eclosão da II Guerra Mundial. Sempre com a Talbot, fazendo equipa primeiro com Jean Trévoux e em 1939 com Luigi Chinetti, registou dois abandonos.

Com o renascer do desporto automóvel após o conflito, Pierre, cuja alcunha Levegh resultava de uma homenagem ao seu tio Alfred Velghe, um pioneiro do desporto automóvel falecido um ano antes do nascimento de Pierre, sendo Levegh um anagrama de Velghe, voltou a competir, sempre com a Talbot, tendo mesmo corrido seis Grandes Prémios entre 1950 e 1951, com máquinas obsoletas registando três abandonos e como melhor resultado um sétimo lugar no Grande Premio da Bélgica de 1950. Voltou em 1951 a Le Mans registando um quarto lugar. Foi no entanto em 1952 que o seu nome começou a ficar marcado na história da prova. O resultado final foi um inglório abandono, mas a corrida de Levegh ficou para sempre associada às lendas da maratona francesa. Isto porque Levegh foi obrigado a desistir devido a uma falha do motor do seu Talbot já na última hora de prova, depois de o francês ter feito a prova a solo! Aliás, a avaria do motor foi atribuída a uma falha numa passagem de caixa motivada pela fadiga extrema do piloto. O pior é que Levegh liderava a prova com quatro voltas de avanço, tendo a vitória na mão! Mais dramático era impossível…

Sempre com a Talbot voltou a Le Mans em 1953 e 1954, somando um oitavo lugar e um abandono respectivamente.

Com a retirada da Talbot, os feitos de Levegh com maquinaria muito desactualizada não passavam despercebidos a outras equipas, sendo contratado pela todo poderosa Mercedes-Benz que procurava emular no Endurance o regresso triunfante que vinha protagonizando desde o ano anterior nos Grandes Prémios. Com uma equipa de luxo, destcando-se a dupla do carro com o dorsal 19, que contava “apenas” com Stirling Moss e Juan Manuel Fangio, apoiados pelo carro 20 de Levegh e o norte-americano John Fitch e o 21 de Karl King e André Simon. Os grandes rivais eram os Jaguar D-Type liderados pela dupla Mike Hawthorn e Ivor Boeb, segundos em 1954.

A corrida começou verdadeiramente frenética, com Fangio e Hawthorn a digladiarem-se com se um verdadeiro Grande Premio se tratasse e ninguém diria que era uma prova de endurance. Até que, com duas horas e vinte cinco minutos de prova se dá a tragédia.


Hawthorn liderava seguido de muito perto por Fangio, quando se aprestavam para dobrar Levegh pela primeira vez na corrida. Ao entrar na recta da meta ultrapassa Levegh e de seguida o Austin Healey de Lance Macklin. Entretanto o francês iniciou a ultrapassagem ao bem mais lento Austin Healey pela esquerda também, quando Hawthorn trava e guina para a direita para parar nas boxes para reabastecer. O Austin Healey surpreendido trava e guina para a esquerda para evitar o Jaguar. Ora, à sua esquerda estava o Mercedes 300 SLR de Levegh que embateu, a cerca de 240 km/h no carro de Macklin sendo catapultado contra a barreira lateral da pista e daí para a bancada principal. 




O Mercedes explodiu e desintegrou-se com o capot a constituir uma autêntica lâmina voadora que decapitou e decepou várias pessoas. O conjunto do bloco do motor e eixo dianteiro constituíram uma verdadeira bala de canhão quem esmagou diversos espectadores e a carroçaria em magnésio incendiou-se, sendo este metal facilmente combustível e a sua chama particularmente difícil de extinguir. O Austin Healy desgovernado entra em sucessivos peões e acaba por embater também nas bancadas esmagando também três pessoas. O resultado foi catastrófico, com 82 pessoas a perderem a vida, incluindo Levegh e 76 ficaram amputadas. Juan Manuel Fangio narrou depois que Levegh ainda terá levantado a mão para o avisar do acidente eminente, o que lhe permitiu evitar envolver-se.

Apesar da tragédia e do cenário dantesco, a prova não foi interrompida, em parte para evitar que o público, ao abandonar o recinto ou a tentar chegar perto do local do acidente congestionasse as vias de acesso impedindo a chegada e partidas de ambulâncias e carros de bombeiros.

Como consequência directa a Mercedes optou por retirar, cerca de quatro horas e meia os dois carros ainda em prova, incluindo o carro 19 que liderava, por ordem expressa da Administração.

No entanto nos tempos seguintes as consequências foram de maior porte, com diversos países a proibirem as competições automóveis até que se criassem regras rigorosas de segurança, como em França ou Alemanha, ou a Suíça que proibiu as corridas em circuitos até 2007! A Mercedes abandonou as competições assim como a Bristol Cars, que fez 1-2-3 na categoria até 2 litros, assim como outras marcas.

Foi realizada uma homenagem às vítimas do acidente na catedral de Le Mans, na segunda feira a seguir à prova.

Pierre Levegh foi sepultado no cemitério Pere Lachaise em Paris.

Gran Turismo – A saga

Nem só de carros reais vive o homem. E quando falamos dos carros virtuais que preenchem o imaginário dos miúdos e graúdos a série Gran Turismo, em exclusivo para as consolas Playstation é uma referência.


De facto, o primeiro Gran Turismo, lançado há mais de 12 anos, foi radical em três vertentes.

Em primeiro lugar pelo controlo dos carros. Numa fase em que o controlo dos carros nos jogos de consola era tudo menos realista, aparecia um jogo em que as diferenças entre carros eram bastante sensíveis, ou seja, percebia-se perfeitamente tratar-se de carros de tracção dianteira, traseira ou integral, assim como se sentia perfeitamente a entrega de potência mais ou menos linear dos motores, etc. Não era perfeito, é certo, os carros de tracção dianteira, por exemplo, eram demasiado fáceis de introduzir em curva, quase sem subviragem, enquanto os carros de tracção traseira sofriam de excesso de sobreviragem. Por outro lado o som dos motores era fantástico.

Em segundo lugar a longevidade do jogo. Numa altura em que os jogos de carros tinham geralmente um muito limitado número de pistas e carros disponíveis, Gran Turismo oferecia-nos 11 pistas que poderiam ser percorridas em ambos os sentidos, o que não era nada de espectacular, mas espectacular era o número de veículos presentes, nada menos que 180! É verdade que o número era obtido devido à maioria dos carros estar presente em mais que uma versão, mas mesmo assim a variedade era imensa. Com a benesse de dispormos desde vulgares carros de estrada até bombas de competição, estando ainda disponíveis upgrades e diversos tipos de pneus. Os nossos popós do dia a dia, depois de devidamente evoluídos, poderiam passar a verdadeiras versões “racing” com decoração apropriada. Com tanto modelo diferente havia também um sistema de jogo à altura. Começava-se com uma quantia muito pequena de dinheiro, com a qual comprava-mos um carro usado, depois era correr para ganhar mais créditos, melhorar o nosso carro, comprar outros carros e por aí fora. Havia competições limitadas a tipos de transmissão, peso, nacionalidades, carros preparados ou carros de origem, não faltando as corridas de endurance, havendo uma corrida de 300km! Havia também as indispensáveis licenças de condução, neste caso três, com testes de dificuldade crescente, sendo que cada competição exigia determinada licença em conformidade com o nível da mesma.

Em terceiro, o aspecto do jogo. Se hoje pouco nos diz em termos de qualidade, na altura era fantástico. Quando a equipa de desenvolvimento começou a lançar imagens do jogo, surpreendeu tudo e todos ao afirmar que a Playtation (a primeira da série) não estava sequer a ser explorada em 50% das suas capacidades pelos melhores jogos de então. O Gran Turismo e especialmente o Gran Turismo 2 vieram dar-lhe razão.

Com isto tudo surgiu o jogo, nascido do fanático por carros de corrida Kazunori Yamauchi que mais vendeu em todo o mundo para a primeira consola da Sony, vendendo quase 11 milhões de cópias em todo o mundo. Contribui decisivamente para o predomínio da Sony sobre as concorrentes há muito implantadas no mercado, nomeadamente a Nintendo e principalmente a Sega, grande dominadora do mercado, e que lutava pela liderança do mercado com a equivalente Sega Saturn.
Mas ainda não era o jogo perfeito. Como já foi dito, apesar de um controlo dos carros, fantástico para a época, ainda não era tão realista quanto pretendido. A variedade de carros não japoneses também era reduzida, limitada a 4 construtores, dois americanos e dois ingleses, ou seja, a Chevrolet com uma mão cheia de Camaros e Corvettes na circunstancia, a Dodge, também com 5 dos inevitáveis Viper e Concept Cars, a TVR com o Cerbera e o Grifith ambos em versão civil e versão racing e a Aston Martin com o DB7 nas versões Coupe e Volante. Havia também carros que permitiam desenvolvimentos atingindo potências e velocidades irracionais, como por exemplo os Nissan Skyline GT-R, os Toyota Supra ou os Mitsubishi GTO (conhecidos por GT3000 na Europa), que podiam ser preparados para debitarem mais de 900cv e atingirem velocidades de 400 km/h. Estava apontado o caminho para o segundo título da série, o Gran Turismo 2.

McLaren F1

O supercarro levado a outro nível

O McLaren F1 foi o primeiro carro de estrada do popular construtor de Fórmula 1 e foi um carro muito especial. Mesmo dentro do universo muito exclusivo dos Supercarros. Ainda hoje, quase vinte anos após o seu lançamento, é o carro de produção com motor atmosférico mais rápido do mundo.

A ideia veio da cabeça do genial projectista da equipa de Fórmula 1, Gordon Murray, que foi responsável por alguns dos mais arrojados projectos desde finais da década de 1970 até inícios da década de 1990, primeiro na equipa Brabham, como o BT46B, mais conhecido por Brabham “aspirador”, os campeões BT49 e BT52 pelas mãos de Nelson Piquet em 1981 e 1983 respectivamente e o falhado BT55. Já com a McLaren o seu primeiro projecto foi o fabuloso MP4/4 que venceu 15 das 16 corridas de 1988, falhando apenas a vitória no GP de Itália depois de uma desatenção de Ayrton Senna numa dobragem levar à colisão com o Williams de Jean Louis Schelesser e consequente abandono quando liderava isolado, assim como os conseuentes projectos campeões até 1991, altura em que passou para a recém formada McLaren Cars, cujo objectivo era precisamente construir o F1. Mas a ideia nasceu alguns anos antes, precisamente nesse azarado GP de Itália de 1988. No regresso a Inglaterra após a corrida, no avião, Gordon Murray fez um esboço de um desportivo com três lugares que propôs ao patrão Ron Dennis, defendendo que era chegada a altura de a McLaren construir a referência dos super-desportivos. Sabido o desejo de Ron Dennis em tornar a longo prazo a McLaren uma espécie de Ferrari inglesa, este não enjeitou o repto.

Inicialmente Gordon Murray serviu-se de referência para os parâmetros do carro, nas marcas tradicionais da época, Ferrari, Porsche e Lamborghini, até visitar com Ayrton Senna o Centro de Pesquisa da Honda em Tochigi, aquando das acções de marketink para o lançamento do Honda NSX, em que ficou maravilhado com a qualidade do chassis e facilidade de condução do modelo japonês. A partir daí o objectivo em termos de comportamento passou a ser o carro nipónico. Dada também a aprceria com a Honda, a opção óbvia para equipar o carro era um motor do mesmo construtor. Porém o V6 com 3,0 litros do NSX não era suficientemente potente para os objectivos de prestações de Murray e tentou convencer a Honda a construir um motor com 4,5 litros e arquitectura V10 ou V12, mas os japoneses não se mostraram interessados em projectar um motor que não tinha aplicação em nenhum carro da sua gama e sendo irredutíveis na sua decisão, o motor escolhido, apesar do assédio da Isuzu, que pretendia fornecer um motor que preencheria os requisitos, acabou por ser um V12 com 6,1 litros de origem BMW, sempre atmosférico, pois foi, desde o início, assim determinado pelo facto dos motores naturalmente aspirados permitirem uma maior fiabilidade e facilidade utilização pela entrega de potência mais linear, até porque temos que recordar que tais considerações foram feitas há vinte anos atrás, basta ver que o primeiro turbo de geometria variável num carro a gasolina apareceu no Porsche 997 Turbo de 2006, ou seja quinze anos após o F1 ter sido apresentado.

Escolhido o motor, o passo seguinte foi adquirir dois Ultima MK3 que foram modificados, sendo montado num o motor BMW para ser testado ao mesmo tempo que se desenvolviam o sistema de escape e o sistema de refrigeração enquanto no outro montou-se um motor comprovado, com binário semelhante ao do BMW para testar transmissões e suspensões, sendo escolhido um Chevrolet V8 com 7,4 litros. Uma vez obtidos os resultados pretendidos estes dois carros foram destruídos para evitar a associação do desenvolvimento do F1 aos mesmos.

Concept Car sem piscas na frente e os espelhos no topo do Pilar A

O carro foi apresentado ao público, ainda como concept car, com a designação de XP1, no Automobile Club de Mónaco, a 28 de Maio de 1991, sendo a versão apresentada praticamente igual à versão final, com duas pequenas alterações. Foi rejeitada a sua homologação por não ter luzes de mudança de direcção, ou seja, os vulgares “piscas” na frente, uma vez que Murray optou por incluir as luzes nos espelhos, solução que acabou por ser optada como complemento por muitos construtores no futuro. Foi alterada também a posição dos mesmos espelhos, que originalmente se situavam quase no topo do Pilar A da carroçaria, para o topo dos guarda-lamas. No entanto muitos dos clientes, depois de adquiridos os carros, solicitou que fossem montados os espelhos do protótipo ao invés dos homologados.

Versão definitiva com nova localização de espelhos e piscas

O carro espantou pelas arrojadas mas simultaneamente belas linhas, os três lugares, com o condutor em posição central, tal como num monolugar e os dois lugares laterais mais recuados para melhor acesso e visibilidade do condutor. Mas o arrojo foi ainda maior nas opções técnicas empregues. A McLaren não fez concessão nas escolhas, apenas os melhores materiais e tecnologias, nascendo assim o primeiro carro de estrada com monocoque em fibra de carbono, com as suspensões a serem ancoradas a pontos específicos em magnésio inseridos na fibra de carbono durante a assemblagem da mesma. Apenas a secção traseira, devido às enormes variações de temperatura a que estaria sujeita pelo motor não foi executada em carbono. Outra preciosidade foi o uso de película de ouro no revestimento do compartimento do motor e dos tubos e silenciosos de escape, devido a ser um reflector de calor por excelência. De entre outros materiais exóticos aplicados destacam-se o titânio e o kevlar. A segurança do carro ficou demontrada na Namíbia, durante uma sessão de testes, em que o condutor de serviço, apenas de calções e t-shirt embateu numa pedra de razoáveis dimensões a alta velocidade, levando o carro a dar diversas cambalhotas e saindo ileso. Nos crash-test habituais a 50km/h contra o bloco de aço, o arco e cava das rodas da frente ficaram intactos, mantendo a sua forma original, só para ter uma ideia da resistência do chassis em fibra de carbono. Tudo isto para um peso final de 1140kg, dos quais 266kg eram da responsabilidade do motor. Apesar desta preocupação com o peso e performance o carro possuía uma lista de equipamento bastante considerável para um super-desportivo de então, destacando-se o ar condicionado, auto-rádio com capacidade para 10 Cd, fecho centralizado, vidros eléctricos, auxiliares de abertura das portas “borboleta” e até conjunto de malas a condizer com os estofos do carro, com as dimensões ideais para arrumar nos compartimentos de bagagem do carro e mesmo um saco com tacos de golf, tudo de série.

Aerodinamicamente o carro apresentada um coeficiente de arrasto de apenas 0,32, contra os 0,36 do Bugatti Veyron. O carro não possuía nenhum aileron, recorrendo ao um extractor no fundo do carro e a duas ventoinhas à imagem do que Murray fez no Brabham BT46B. Havia um pequeno aileron na traseira que apenas era accionado em travagens a alta velocidade para contrariar a transferência natural de peso para a frente do carro.

O motor BMW V12 acabou por ter 627 cavalos e pesar 266kg, ultrapassando os 550 cavalos e 250kg requeridos por Murray. Um motor com toda a tecnologia comprovada à época, destacando-se as válvulas de geometria variável, injecção sequencial ou o revestimento do interior dos cilindros a Nikasil, um material de reduzido atrito e alta durabilidade. Para ter uma ideia da tecnologia empregue no motor, basta ver que foi este mesmo propulsor, o utilizado pela BMW para vencer Le Mans em 1999. O motor apresentava um consumo médio de 15,5l/100km e um consumo em condução desportiva de 25,3l/100km.

Na altura em que foi apresentado, o carro de estrada mais rápido do mundo era o Ferrari F40, com 324 km/h, entretanto em 1992 o Bugatti EB110SS e em 1993 o Jaguar XJ220 colocaram o recorde em 346km/h e 349,2km/h respectivamente. De notar que o valor obtido pelo Jaguar foi produzido após remoção do catalisador, pois com o mesmo o valor foi de 343 km/h, ou seja, um valor inferior ao Bugatti em configuração legal de estrada. O McLaren pilotado por Jonathan Palmer registou no anel de velocidade de Nardo em Itália, segundo os requisitos, uma velocidade de 371,8 km/h, em 1994, recorde que se manteve até 2005. No entanto o limite para este valor não foi a falta de potência e binário para vencer o arrasto de tão alta velocidade mas o limitador de rotação do motor. Assim, sem o limitar de rotação às 7500rpm activo, o carro atingiu 391,4 km/h aproximadamente às 7800rpm. Se observarmos que a potencia máxima do motor é disponibilizada às 7400rpm, podemos concluir que acrescentada uma sétima relação ou com desmultiplicações reajustadas era possível obter um valor ainda superior. De referir que se desconhecem tentativas do Dauer 962 em registar uma tentativa válida de recorde.

McLaren F1 LM

Foram construídas 64 unidades de estrada do F1, vendidas ao preço de cerca de um milhão de dólares, e cinco protótipos de desenvolvimento. Surgiram mais tarde duas variantes, o F1 LM, uma réplica da versão de competição que venceu as 24 horas de Le Mans em 1995, em que o motor, versão competição, sem restrictores de admissão, disponibilizava 680 cavalos, o peso reduzido em 76kg pela retirada do sistema de áudio, ar condicionado, isolamento acústico e outras “mordomias” da versão original. A carroçaria é igualmente uma réplica da versão de corrida, incluindo aileron traseiro, splitter dianteiro e entradas de ar dianteiras redesenhadas. Devido ao maior arrasto aerodinâmico e downforce o carro, apesar de uma maior potência a velocidade de ponta era “apenas” de 362 km/h. Desta variante foram construídas 5 unidades de estrada e um protótipo.

A família civil F1, F1 LM e F1GT

Mais tarde, com a transformação do campeonato BPR onde competia em Campeonato FIA-GT, houve necessidade de desenvolver extensivamente o carro, nomeadamente a nível aerodinâmico, surgindo o F1 GT, que replicava o F1 GT-R que competiu nesse campeonato, com excepção da enorme asa traseira, porque se chegou à conclusão que a carroçaria alongada já mobilizava downforce suficiente. Apesar da profundamente modificada carroçaria, esta era montada sobre a mecânica do F1 original. Desta versão foram construídas duas unidades de estrada.

Vistas do F1 GT

A longa traseira do F1 GT

Em competição houve três versões, designadas GT-R, sendo distinguidos pelo ano de construção. As primeiras unidades apareceram em 1995 e correspondem à versão vencedora das 24 horas de Le Mans desse ano. As versões de 1996 pouco diferem das do ano anterior, apenas com um ligeiro aumento das cotas da carroçaria e uma redução de peso. A versão de 1997 diz respeito à versão alongada que competiu no FIA GT, sendo neste caso a capacidade do motor reduzida para 6,0L por questões regulamentares e o peso reduzido para 910kg, sendo a versão final do carro.

Destaque aqui pela vitória à geral nas 24 horas de Le Mans de 1995, em que ficaram quatro McLaren nos cinco primeiros lugares, apenas com o Courage-Porsche da categoria de Sport-Protótipos a intrometer-se no segundo lugar. A vitória foi para o carro número 59, inscrito pela Kokusai Kaihatsu Racing, assistido pela Lazante Motorsports e pilotado por Yannick Dalmas, Masanori Sekiya e JJ Lehto. Sekiya tornou-se no primeiro japonês a vencer a prova. Os melhores GT1 não McLaren ficaram em 10º lugar, um Nissan Skyline GT-R LM já a 27 voltas e o famoso Ferrari F40 número 34 “Pilot” em 12º lugar, uma volta atrás. A título de curiosidade, o carro vencedor, ao contrário da maioria dos outros F1 de competição, não foi construído de raiz para a competição, sendo adaptado dum modelo de estrada. Dos sete McLaren que se apresentaram à partida apenas dois não atingiram o fim da prova. No total os McLaren lideraram a corrida em todas em 284 voltas, apenas não estando na liderança em 13 das primeiras 15 voltas, isto apesar de uma desvantagem de 30 km/h em velocidade de ponta para os melhores Sport-Protótipos.

F1 GT-R de 1995

O carro vencedor de Le Mans em 1995

Em 1996 os resultados na clássica foram mais fracos, devido à entrada em cena da Porsche a nível oficial com o Porsche 911 (993) GT1 e de modo semi-oficial, com a Joest, que inscreveu dois Sport-Protótipos de chassis TWR cujo desenvolvimento foi pago pela Porsche que forneceu também os motores. O Joest-TWR venceu, seguido pelos dois Porsche 911 que venceram a classe GT1, ficando os McLaren em 4º, 5º, 6º, 8º, 9º e 11º, a que corresponderam o 3º, 4º, 5º, 6º, 7º, 8º e 10º lugar da classe GT1. Curiosamente o único McLaren a desistir foi o da equipa vencedora da edição anterior, embora um carro diferente, pois o carro de 1995 foi retirado da competição.

F1 GT-R de 1997

Em 1997 entraram em cena os F1 GT-R derivados do F1-GT, semelhantes aos participantes no novo FIA-GT, sendo a grande diferença a possibilidade de uso de sistema de travagem com ABS, interdito no FIA-GT. A outra grande diferença era um maior diâmetro nos restrictores dos motores turbo, o que não afectava os McLaren atmosféricos mas benficiava os Porsche 991 GT1 Evo, que se apresentaram bem mais competitivos que no FIA-GT. Ainda assim voltou a vencer o Joest-TWR, ficando os restantes lugares do pódium e a dobradinha na classe GT1 para dois McLaren. No entanto, ao contrário da versão curta do carro, esta revelou-se bem menos fiável, pois apenas estes dois carros atingiram o final, desistindo os restantes quatro carros.

A família completa de estrada e competição

Em outras competições destaque para os títulos no campeonato BPR de 1995 e 1996, vencendo 10 em 12 corridas em 95 e venceram 7 corridas em 11 em 1996, sendo que 3 outras vitórias foram alcançadas pelo Porsche 911 GT1 que não pontuava para o campeonato e os Ferrari F40 tiveram a sua solitária vitória em Anderstorp tal como em 1995.

Em 1997 com a passagem a campeonato FIA e a entrada da Mercedes, Panoz e Lotus com verdadeiros protótipos, tal como o Porsche GT1, de que foram construídas apenas as 25 unidades de homologação as dificuldades aumentaram pois, apesar da nova carroçaria, a mecânica era de um carro de estrada de 1991. Ainda assim venceram 5 provas contra 6 da Mercedes que, aproveitando uma abébia do regulamento colocava o seu piloto de ponta Bernd Schneider num dos outros CLK-GTR quando o seu carro tinha problemas, no que ficou conhecido entre a concorrência por Schneider Taxi Service, acabando este por se sagrar campeão à frente da dupla do McLaren número 8, Steve Soper e JJ Lehto. Com isto tudo no final do ano a McLaren retirou-se oficialmente do campeonato.

A versão JGTC, a última em actividade

Noutras competições destaque para as vitórias nos campeonatos britânico em 1996 e 1998 e japonês em 1996, neste caso sendo o primeiro carro não nipónico a alcançar o título. Aliás, com o final da categoria GT1 neste formato, o campeonato japonês foi o último local onde se pôde ver o F1 a correr, mantendo-se em actividade até final de 2003, tendo conquistado a última vitória em 2001, contra carros bem mais recentes, com um pormenor interessante, porque havia um piloto português ao volante, o luso-macaense André Couto foi um dos pilotos que conduziu o carro com o chassis #019, o primeiro construído com as especificações de 1997 à vitória no circuito de Mine.

O passado e o futuro, o F1 e o MP4-12C que deverá ser colcoado à venda em 2011, igualmente potente mas bem menos exclusivo e exótico, deverá ser colocado à venda a um preço 6 vezes inferior ao antecessor

Ferrari 250 GTO

O primeiro Supercarro de Maranello

Estávamos em 1962 quando sairam da linha de produção os primeiros Ferrari 250 GTO. Por muitos é considerado o primeiro Supercarro da Ferrari. A classificação de supercarro apenas é atribuída a carros com performances extremas, acima de qualquer referencial.

Ferrari 250 GTO

Vista traseira

O modelo derivava do 250 GT SWB, embora tenha sido realizado sobre a base de um 250 Boano onde foram instaladas as soluções adoptadas, e destinava-se à homologação duma versão mais extrema e performante para posterior participação em competições de GT. As alterações mais marcantes foram a opção pelo motor com cárter seco, logo mais baixo, o que permitiu baixar o centro de gravidade e também a altura do capot, com benfícios ao nível do comportamento em curva e ao nível da aerodinâmica, com a diminuição da superfície frontal. A traseira também foi redesenhada de modo a obter menor arrasto aerodinâmico. A própria designação 250 GTO demonstra isso mesmo, sendo 250 a capacidade unitária em centímetros cúbicos de cada um dos doze cilindros, que produzia cerca de 300 cavalos de potência, e GTO a abreviatura de Gran Turismo Omologato, ou seja, Gran Turismo Homologado.

Vista geral da mecânica do 250 GTO

Um belo V12 debaixo do capot, pois claro

A ideia era construir um verdadeiro carro de competição nas 100 unidades necessárias para homologação na classe GT. No entanto apenas foram construídas 39 unidades no total. A questão das 100 unidades foi contornada pela manipulação dos números de chassis. Assim os chassis produzidos não foram numerados sequencialmente, ocorrendo “saltos” na numeração, para assim se chegar ao chassis 100, sem no entanto ser produzida a centena de viaturas. O modelo era de tal maneira espartano que as únicas partes originalmente revestidas do interior eram os muito pouco estofados bancos e nem incluía velocímetro ou odómetro, apresentando um grande conta-rotações e outros pequenos mostradores em volta.

O interior minimalista

O preço de venda ao público era astronómico para a época, nos Estados Unidos era vendido em 1962 por cerca de $18 000, basta ver que os primeiros Porsche 911 colocados à venda no mesmo mercado, em 1965, tinham um custo de $6 500 e o Ferrari 250 GT/E era vendido por $11 500. Ainda assim muito pouco, comparado com os £ 15 700 000 (cerca de $ 25 000 000) que Lee Kun-hee, ex-presidente da Samsung pagou por um exemplar original do carro em 2008.

Um 250 em acção de demonstração de clássicos

Na competição apenas se pode dizer que arrasou. Isto apesar da insatisfação dos pilotos destacados para os pilotar, pois preferiam pilotar os 250 Testa Rossa que eram inscritos na classe de Protótipos e por isso favoritos para as vitórias à geral enquanto os 250 GTO dificilmente poderiam almejar a mais do que lutar pela classe de GT. Apesar do cepticismo de Phil Hill, campeão do Mundo de Formula 1 em título e Olivier Gendebien estrearam o carro com um segundo lugar à geral e primeiro da classe nas 12 horas de Sebring, apenas batidos por um 250 Testa Rossa. A mesma dupla de pilotos venceu as 24 horas de Le Mans com o novo 330 Testa Rossa, assim designado por estar equipado com o novo motor V12 de 4 litros (12 x 330cm3), que posteriormente havia de equipar alguns GTO, apropriadamente designados 330 GTO. Assim na clássica francesa, atrás do Testa Rossa vencedor classificariam-se dois 250 GTO entregues a equipas semi-oficiais. Estava dado o mote, com o carro a sagrar-se campeão do mundo na classe de GT consecutivamente em 1962, 1963 e 1964. No seu ano de estreia venceu mesmo todas as provas que disputou na sua classe. Voltou a ficar um 250 GTO em segundo da geral em 1963 e em 1964 o melhor 250 GTO apenas conseguiu um 5º lugar da geral e mais significativamente perdeu a vitória da classe para um Shelby Cobra.

Um 250 GTO Type 64, com diferenças bem visíveis em relação ao original

Um 330 GTO sendo de notar a maior proeminência da bossa no capot

Era o anúncio de que o carro estava a ficar obsoleto, a concorrência a reforçar-se e o maior equilíbrio do chassis já não era suficiente para obstar à maior potência do Ford V8 de 4,7l do Shelby. Por outro lado começavam a aparecer os primeiros GT com motor central traseiros, mais equilibrados que o GTO. Ainda apareceram as referidas unidades (apenas 3) com o motor de 4 litros com 400 cavalos, os 330 GTO, que se distuinguem pela bossa bem mais evidente no capot devido às cotas superiores do novo motor e ainda 3 unidades do Type 64, com a carroçaria revista, mas era altura de pensar num substituto com motor central traseiro, que surgiu na forma do 250 LM, que no entanto a Ferrari nunca conseguiu homologar com GT, correndo como protótipo, pois apenas se construíram 32 unidades e a FIA já tinha percebido o logro em que tinha sido levada com o GTO, rejeitou os artifícios da marca para simular a construção das 100 unidades requeridas. Como forma de protesto a marca já não se apresentou, oficialmente ou através de apoio directo, em competição na categoria de GT a partir de 1965, acabando assim com a carreira do GTO.